Mudar
o padrão de consumo e a matriz energética estão entre os maiores desafios que o
mundo terá de enfrentar se quiser reduzir as emissões de gases que causam o
efeito estufa e colaboram para o aquecimento global.
Atualmente,
ao mesmo tempo que a produção de energias limpas deu um salto tecnológico o
mundo passou a depender como nunca de fontes energéticas que lançam gases que
provocam o efeito estufa na atmosfera.
Estudos
citados neste ano pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC,
na sigla em inglês) da ONU afirmam que os investimentos mundiais em energias
renováveis nunca foram tão altos - chegaram a US$ 38 bilhões em 2005. Ainda
assim, mostram os mesmos estudos, as emissões de gases do setor energético
nunca foram tão volumosas.
Juntas,
as emissões de gases que causam o efeito estufa equivalem a 49 bilhões de
toneladas de CO2 lançadas anualmente na atmosfera. Destas, 26 bilhões de
toneladas estão relacionadas à produção de energia, que inclui o fornecimento e
o aquecimento de casas e empresas e o setor de transporte.
Se
mantidas as atuais políticas energéticas, estas emissões poderiam atingir o
equivalente a 40 bilhões de toneladas até 2030, segundo os cálculos
apresentados pelo IPCC.
A
dificuldade de mudar esta tendência se deve ao fato de que, atualmente, cerca
de 80% da energia mundial é fornecida por fontes fósseis, como o petróleo
(33%), o carvão (25%) e o gás (21%).
No
caso da produção de energia elétrica, também há grande dependência de fontes
fósseis. Segundo dados de 2004, os recursos energéticos mundiais combinados
geraram cerca de 17,4 mil gigawatts hora (GWh) de eletricidade. O carvão
respondeu por 40% desta energia elétrica, seguido pelo gás (20%).
Para
piorar a situação, as duas fontes consideradas limpas que mais contribuem para
a produção de eletricidade - a energia nuclear e a hidrelétrica - têm sido cada
vez mais questionadas por cientistas e ambientalistas como alternativa
realmente ideal.
A
nuclear, que responde por 16% da geração de eletricidade, traz embutidos riscos
de contaminação por lixo atômico e de proliferação armamentista mundial.
A
energia hidrelétrica, que também responde por 16% da produção de eletricidade,
é considerada limpa e sustentável. No Brasil, responde por mais de 80% do
consumo do país. Entretanto, a construção de grandes usinas causa sérios
impactos sobre o meio ambiente e a ocupação do solo onde são instaladas.
Na
opinião de especialistas, é preciso estudar todas as alternativas e não há uma
resposta simples sobre como mudar a matriz energética mundial.
Um
exemplo é a questão nuclear. Para Richard Schock, diretor de Estudos do
Conselho Mundial de Energia (WEC, sigla em inglês), essa é uma alternativa que
não pode ser ignorada. "A energia nuclear terá de estar de estar
disponível em todo o mundo. Em alguns lugares de alta densidade, como por
exemplo o Japão, onde não existem muitas áreas para produção de energia, é de
se esperar que a proporção aumente nos próximos 50 anos", diz ele, que é
co-autor de um capítulo sobre o tema no relatório do IPCC.
O principal
desafio é desenvolver outros tipos renováveis de energia, como eólica (dos
ventos), solar, de biomassa e da terra (geotérmica), que respondem por apenas
2% da matriz energética mundial.
Um
levantamento da Rede para Políticas de Energias Renováveis, citado pelo IPCC,
mostra que em 2005, os investimentos em energias renováveis alcançaram US$ 38
bilhões, por iniciativa principalmente de Alemanha, China, Estados Unidos,
Japão e Índia.
Alemanha,
Espanha e Estados Unidos, por exemplo, já têm capacidades instaladas de energia
eólica que alcançam respectivamente 18,4 GW, 10 GW e 9,1 GW, segundo o Conselho
Mundial de Energia (WEC). Para efeito de comparação, a usina de Itaipu tem uma
capacidade de 12,6 GW.
Recentemente
a Índia (4,4 GW) superou a Dinamarca (3,1 GW) e é um dos países que mais
desenvolvem este tipo de tecnologia energética, junto com a China (que hoje tem
1,3 GW e pretende ampliar para 30 GW em 2030).
Já
a energia solar deve chegar a uma capacidade instalada de 5 GW até 2010, nos
cálculos do WEC. Esta alternativa é vista como especialmente atraente para
países emergentes que se beneficiam de luz solar abundante. Tanto a Índia como
a China instalaram grandes programas de células fotovoltaicas para captar a luz
solar e transformar em energia.
O
Brasil também é visto como um país com grandes vantagens, por seu programa de
etanol à base de cana-de-açúcar e do potencial ainda existente para explorar
hidreletricidade a partir de pequenas usinas.
Mas
o próprio WEC condiciona o desenvolvimento de fontes de energia não-fósseis à
redução dos custos de produção, e especialistas consideram que o incentivo
passa pelo bolso.
A
Agência de Energia Internacional estima que os investimentos para atingir a
demanda por energia até 2030 vão beirar os US$ 20 trilhões, e por isso
analistas dizem que a melhor política para incentivar energias limpas é
torná-las economicamente atrativas.
Ao
se referir às propostas de taxação das emissões de carbono, o IPCC afirmou que
um preço de US$ 20 a US$ 50 por tonelada de CO2 seria capaz de transformar o
setor energético e elevar a participação das fontes renováveis na matriz
energética para 35% até 2030, quase o dobro do quinhão atual.
"Não
temos políticas de energias suficientes nem cooperação internacional suficiente
entre governos, empresas nem governos e empresas para fazer o que hoje já é
possível tecnicamente. Precisamos que investidores e profissionais das finanças
invistam em políticas", afirma o dr. Schock.
"Mas
precisamos de políticas consistentes, precisamos tomar cuidado para que
investir em energias renováveis não se torne menos atraente em cinco ou dez
anos. Investidores só colocarão seu dinheiro em políticas que eles acreditarem
que sobreviverão."
BBC
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